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domingo, 20 de fevereiro de 2011

KAFKA SORRI NA ETERNIDADE



Ontem de madrugada vi uma barata branca passeando pelos ladrilhos negros do meu banheiro. O pior é que eu não estava bêbado, aliás não sou do tipo que costuma ficar bêbado, porque uma dor-de-cabeça cruel me assalta antes que eu consiga passar do limite e ver o mundo rodando. E o mais curioso é que a barata era banca mesmo, e os ladrilhos do meu banheiro são de mármore negro, imagine o contraste!

Levei um susto, depois tive vontade de perseguí-la, mas o monstrinho desapareceu como por encanto, ou foi mais rápida que meus olhos míopes e astigmáticos ao mesmo tempo. Mais provável.

Fiquei lembrando da minha infância, em um momento em que eu morava com minhas tias, e lembrei do pânico das senhoras, misturado ao frenezi das crianças correndo com chinelos à mão... Mas depois lembrei também das histórias que me contavam:

" - A barata branca geralmente só aparece pra uma única pessoa. Ela é chamada de barata-noiva e significa que aquela pessoa vai se casar em breve!"

Essa era uma das histórias que eu ouvia em casa, você sabe, tias solteiras, família mineira, grande, cheia de crendices (e o texto redundando nos adjetivos) mas uma vizinha mais soturna, creio que uma viúva paulistana, filha de imigrantes búlgaros, gente muito tendenciosa a ver espíritos malignos até mesmo num belo arco-íris, um dia me disse assim:

" - A barata branca é chamada de barata-fantasma e traz sempre mau agouro! Quando ela aparece, é sinal de que alguém daquela casa ou algum conhecido de quem a viu irá morrer em breve!"

Considerando o imaginário popular e considerando que eu moro sozinho num prédio antigo, vocês já podem imaginar o resultado: não consegui dormir durante a noite. Primeiro esperei por mais de uma hora que a noiva-fantasma voltasse, depois passei o resto da madrugada no quarto, um calor infernal sem ar-condicionado, imaginando quem seria essa minha esposa tão inesperada ou como seria essa minha morte tão prematura... e com a barata-branca me convidando a escrever um samba pra ela!


O prognóstico é pouco animador: ou eu vou me casar muito em breve, ou vou morrer! Pra mim, está dando na mesma...



sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A CARNE




A carne 
é o cerne
de tudo o que a gente gosta
mas também do arame farpado
que se enrosca na alma do coitado.

A carne da mulata
servida em baixelas de prata.
A carne da loirinha
degustada com os melhores vinhos.
A mulher do outro
um manjar para poucos.
O sexo igual ou diferente
a carne que ilude a gente...

Se os sábios, os santos, os ascetas

disserem que é na alma que reside
o fogo que dá vida aos poetas
chame-os de falsos, pois é tudo mentira!
É a carne que alimenta
o fogo da sagrada pira!