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sexta-feira, 16 de julho de 2010

COM TODA FORÇA, MAS GENTILMENTE




Talvez minha pele seja contemporânea dessa gente,
desses ventos rudes, desses gritos sem razão.

Talvez eu dê as mãos a esse povo e descubra sem surpresa
que suas mãos são frias e duras, feitas de pedra.
Talvez eu os olhe com um olhar de carinho e diga-lhes que sou poeta
e com um estranho desconforto eu sinta seus dedos afrouxarem
e pouco a pouco suas mãos descolarem-se das minhas.
Mas eu os seguro firme e mantenho os olhos fixos
e continuo afirmando: poeta! poeta! poeta!

Mas a ciranda de pedra deve continuar
e eu calo e encaixo-me nas engrenagens de carne e sangue
que fazem o mundo girar e ser esta maravilha tenebrosa
que é capaz (e necessita) de pôr chifres nos carneirinhos
e espinhos nas mais lindas rosas.
Sou essa casca feita dos tempos que vivo
e sou o que vai com os ventos da vontade alheia
contrariando o turbilhão que me percorre as veias.

Mas por dentro talvez eu seja diferente
um tipo estranho de gente que outras gentes evitam
e chego a pensar que sou mesmo estranho a tudo isso:
sou sonho, sou vontade feérica, mas sutil,
sou a força que convence pela delicadeza,
e que se mistura à multidão como o açúcar no café
e que se agarra ao mundo como numa corda se faz um nó.

Sou poeta
e só.

-

A PEDRA




Quase todos os dias acordo sobressaltado
no meio da madrugada contendo um grito
que poderia durar uma eternidade.

Quase todos os dias acordo com uma pedra de fogo dentro do peito
e quero escavá-la, retirá-la dali, jogá-la num lago negro e profundo
e dar-lhe as costas para jamais voltar.

Quase todos os dias eu finjo que acordo, mas sei que estou sonhando
pois a verdade é que estou pesado, adernado como um navio submerso
onde nada vive, nada toca além do oceano frio e escuro.

Algumas vezes ouço alguém me chamar e juro que a voz vem lá da superfície
mas já não tenho forças, nem vontade, para nadar todo o caminho de volta
e olhar o céu, e ver a luz, e atender a quem me chama com um sorriso.

Poderia ser o amor, poderia ser um amigo, poderia ser um anjo.
Mas eu já não acredito mais no amor, nem em amigos, nem em anjos.
Eu não tenho alma, tenho dentro de mim apenas uma pedra
uma pedra incandescente que costumo chamar poesia.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

SANCTUS



Meu melhor inimigo
este corpo exíguo
que se desfaz com calma
transformando matéria em alma…

Esta melhor parte de mim
já nascida para ter um fim
é o que se esconde sob minha pele:
o que o corpo ama, o espírito repele.


quinta-feira, 8 de julho de 2010

A ERVA


Queime a erva cheirosa
com pétalas de rosa.
Ou junte camomila e faça um chá.
Tudo agrada a Buda, Javé ou Jah!