Ask Google Guru:

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

O PESO DA LUZ



Quanto pesa a luz
que evita pousar em tua pele
quando a alvorada passa rente
- lâmina de sol - como esta mão
que hexita, claudica, reivindica, implora
o teu calor, e tu escapas, engenhosa, 
entre os dedos velozes do tempo?

Quanto pesa o gesto
que não se completa, a palavra
esmagada por teu lábio carinhoso
- veludo e vontade, puro aço - agora
que tua carne não se põe em ata
no contrato quotidiano do amor
entre os escombros da noite
e os vestígios do dia?

Quanto pode a tua vontade
agora que és senhora apenas 
da tua própria ausência, mesmo 
quando tua sombra azuleja minha alma
e teus passos - abalo sísmico, cínico -
seguem os dos gatos, pelos cantos
das fotografias?

Quanto queres de mim
hoje que teus poderes acabaram
e as lagunas castanhas dos meus olhos
- águas salgadas, doces marés - secaram
de tanto choro, derramaram tanto ouro,
garimpado sem paz, nos armistícios
declarados à força, senão por amor
apenas por cansaço?

[Amanheceu: sigamos em frente.
Me beija? Toda manhã é boa - mesmo
que amar assim não seja.]

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

A FLORESTA QUE SE MOVE




Paro. 
A floresta se move.
A montanha, veloz,

contorna o aro 
quebrado dos meus óculos. 
A luz cai pesada sobre meus ombros.

Os escombros 
da minha alma não me cabem 
na palma da mão direita. 

Um gato se deita
sobre a minha sombra.
Um cão andaluz paira na tela.

Peço ajuda.
Ninguém ouve.
Aplausos na plateia.

Uma torre branca
está para cair: seus cabelos
pegam fogo, ela não grita.

O cavalo amarelo, 
um bispo negro, um galo
português, um falcão maltês,

um monge cego,
a estrela negra ardendo em pleno dia.
Os signos estão postos, em vão.

Não morrerei.
Nem vivo. Comemoro:
a ruína é um berço de ouro.

Paro.
Quebrado, o aro
dos meus óculos

acompanha a curva
do horizonte que se afasta.
Meu poema é uma floresta.