Quanto pesa a luz
que evita pousar em tua pele
quando a alvorada passa rente
- lâmina de sol - como esta mão
que hexita, claudica, reivindica, implora
o teu calor, e tu escapas, engenhosa,
entre os dedos velozes do tempo?
Quanto pesa o gesto
que não se completa, a palavra
esmagada por teu lábio carinhoso
- veludo e vontade, puro aço - agora
que tua carne não se põe em ata
no contrato quotidiano do amor
entre os escombros da noite
e os vestígios do dia?
Quanto pode a tua vontade
agora que és senhora apenas
da tua própria ausência, mesmo
quando tua sombra azuleja minha alma
e teus passos - abalo sísmico, cínico -
seguem os dos gatos, pelos cantos
das fotografias?
Quanto queres de mim
hoje que teus poderes acabaram
e as lagunas castanhas dos meus olhos
- águas salgadas, doces marés - secaram
de tanto choro, derramaram tanto ouro,
garimpado sem paz, nos armistícios
declarados à força, senão por amor
apenas por cansaço?
[Amanheceu: sigamos em frente.
Me beija? Toda manhã é boa - mesmo
que amar assim não seja.]
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