Esperemos.
Brumas.
Pó, fumaça e fuligem.
Passa uma nuvem,
a foto se desfoca.
Ali acontece
um milagre.
Talvez
uma lua vermelha,
um eclipse, um enigma,
o diafragma da máquina
engasgando diante disto:
o impossível, justo
aqui, agora,
perdido.
Talvez
a auréola do seio
esquerdo da Madonna,
o brinco de prata pendente
na orelha direita de Santo
Agostinho, o próprio.
Talvez
um habitante de Marte
tomando Coca-Cola, ou ela,
a musa impassível, sorrindo,
gargalhando num vibrato
inaudível.
Talvez
o próprio Criador,
ou um criado seu, mandado
especialmente neste momento
para nos contar as velhas
novidades.
Esperamos.
Brumas.
Pó, fumaça e fuligem.
Passou uma nuvem
e roubou-nos a foto.
Fora de foco, tudo
pode ser um
milagre.