Talvez minha pele seja contemporânea dessa gente,
desses ventos rudes, desses gritos sem razão.
Talvez eu dê as mãos a esse povo e descubra sem surpresa
que suas mãos são frias e duras, feitas de pedra.
Talvez eu os olhe com um olhar de carinho e diga-lhes que sou poeta
e com um estranho desconforto eu sinta seus dedos afrouxarem
e pouco a pouco suas mãos descolarem-se das minhas.
Mas eu os seguro firme e mantenho os olhos fixos
e continuo afirmando: poeta! poeta! poeta!
Mas a ciranda de pedra deve continuar
e eu calo e encaixo-me nas engrenagens de carne e sangue
que fazem o mundo girar e ser esta maravilha tenebrosa
que é capaz (e necessita) de pôr chifres nos carneirinhos
e espinhos nas mais lindas rosas.
Sou essa casca feita dos tempos que vivo
e sou o que vai com os ventos da vontade alheia
contrariando o turbilhão que me percorre as veias.
Mas por dentro talvez eu seja diferente
Mas por dentro talvez eu seja diferente
um tipo estranho de gente que outras gentes evitam
e chego a pensar que sou mesmo estranho a tudo isso:
sou sonho, sou vontade feérica, mas sutil,
sou a força que convence pela delicadeza,
sou sonho, sou vontade feérica, mas sutil,
sou a força que convence pela delicadeza,
e que se mistura à multidão como o açúcar no café
e que se agarra ao mundo como numa corda se faz um nó.
e só.
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