Ask Google Guru:

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A MEDIDA CERTA






Neste cais
na beira deste cais
onde mar há demais, demais,
e onde não conheço ninguém
nem meço onde termino nem onde começo
sei que nem sou homem nem menino
nem posso ser santo, tampouco travesso
trago uma pedra latejando no punho fechado
e ela bate, pulsa, você até acharia graça
se eu jogasse essa pedra de fogo na tua vidraça
mas trago-a sem saber o que fazer com ela
sem saber se a jogo ao mar ou se jogo contra a tua janela...

Estou aqui, parado, na beira de um cais de perguntas
feitas para jamais encontrar qualquer resposta.
Sei que preciso de uma atitude, de um leme,
mas sempre que meu coração quer ser suave ou rude
o chão se abre, os ventos sopram, a terra treme
e eu que já não me sinto confortável dentro de mim
preciso ser apenas a exata medida
da rima que talvez não caiba num poema
mas que fique subentendida
como a maior parte de tudo na vida
porque sou poeta, enfim
(pedra enrolada em cetim)
e por isso tenho que barco e timoneiro
mas a alma, esta será sempre um oceano
porque todo poeta é humano
demasiadamente humano
e tem apenas que ser a medida certa
de uma ferida aberta.

domingo, 9 de janeiro de 2011

NAVEGAR É PRECISO





Neste cais
na beira deste cais
onde mar há demais, demais, 
e onde não conheço ninguém
nem meço onde termino nem onde começo
sei que nem sou homem nem menino
nem posso ser santo, tampouco travesso
tenho que ser a medida certa
de uma ferida aberta...


Nessa hora
em que toda pergunta sã me permeia
preciso de qualquer resposta louca
porque tudo o que me vier à boca
não será digno de nota, coisa ínfima
como a mosca que se deixa enredar numa teia
me passa um trem nas veias
e me sinto com alguém que foge
alguém que deve, que se atreve,
alguém que escreve um destino 
diferente do que diziam ser o dogma divino
alguém que que deixa pra trás seus imundos panos
pra ser mais homem, mais mulher, mais vivo, mais humano!


Porque sendo pobre e humilde e suburbano
querendo ser mais que humano
metropolitano, homem do mundo
com a alma mais limpa que a água clara
da fonte mais transparente, mais secreta e mais rara
vem falar como quem sabe só o que é preciso saber
e não esse homem qualquer, esse imundo
que não ouve a poesia murmurante, a poesia simples,
que fala baixinho, fala baixinho com o mundo e o mundo lhe escuta:
ele sim é mestre, artesão, homem que de mansinho
com palavra e força, com martelo e carinho, esculpe a pedra bruta
e transforma o mundo, disto que ele é agora
naquilo que todo homem bom sonha 
que o mundo de hoje seja o que foi outrora!




-

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

FALAR COM DEUS



Conversar com Deus às vezes é um diálogo, outras um monólogo.
Contudo o mais difícil nesse caminho é interpretar quem de nós está falando sozinho!

A FLECHA




O toque do poeta
é o toque de quem se atreve
a passear de leve sobre a pele da mulher do outro
ou como quem olha a divindade e negocia: "A eternidade ainda é pouco!"
Porque ele escreve como quem abre uma porta e não a fecha.
Ofício de arqueiro-poeta é escolher a palavra mais aguda
mas nem se importar em olhar onde vai cair a flecha!