Neste cais
na beira deste cais
onde mar há demais, demais,
e onde não conheço ninguém
nem meço onde termino nem onde começo
sei que nem sou homem nem menino
nem posso ser santo, tampouco travesso
trago uma pedra latejando no punho fechado
e ela bate, pulsa, você até acharia graça
se eu jogasse essa pedra de fogo na tua vidraça
mas trago-a sem saber o que fazer com ela
sem saber se a jogo ao mar ou se jogo contra a tua janela...
Estou aqui, parado, na beira de um cais de perguntas
feitas para jamais encontrar qualquer resposta.
Sei que preciso de uma atitude, de um leme,
mas sempre que meu coração quer ser suave ou rude
o chão se abre, os ventos sopram, a terra treme
e eu que já não me sinto confortável dentro de mim
preciso ser apenas a exata medida
da rima que talvez não caiba num poema
mas que fique subentendida
como a maior parte de tudo na vida
porque sou poeta, enfim
(pedra enrolada em cetim)
e por isso tenho que barco e timoneiro
mas a alma, esta será sempre um oceano
porque todo poeta é humano
demasiadamente humano
e tem apenas que ser a medida certa
de uma ferida aberta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário