Ask Google Guru:

domingo, 22 de maio de 2011

UM ABISMO PRATEADO





Há um abismo prateado no limiar deste horizonte que só vejo quando fecho os olhos com força pensando em você. Cada letra do teu nome é um pecado, e parece que mil flores morrem a cada suspiro que deixo escapar ao lembrar o cheiro mofado da nossa intimidade.


Não quero escapar, não quero voar livremente para um suicídio grandioso e doce, como um novo messias entregando a alma a um deus que não está nem aí:"Eli, Eli, lamna sabactani?" Porque não confio mais na redenção que não seja cínica, cênica, cômica, a única forma de poesia que não pede esmolas a corações de pedra, nem lambe as botas dos generais do amor, esses que sabem tudo sobre paixão, sobre o cerne da carne, sobre o espírito e a alma, confundindo o cú com o coração, misturando mel e lama, chafurdando como porcos na cama.


Há um abismo prateado no limiar deste horizonte que só vejo quando fechos os olhos com força pra poder enxergar essa tua cara de puta, esse teu riso irônico de quem mente como quem ama, com a deliciosa calma dos anjos caídos que aparecem sorrateiramente nas noites mais frias como uma lembrança corriqueira que balbucia versos melosos que duram até o nascer do sol.


Não quero escapar, não quero voar livremente para uma vida após essa vida, para uma existência além desta essência tão maravilhosamente sem graça. Que a desgraça divina e cotidiana de cada amanhecer seja para mim a lembrança de que você está por aí, linda demais para ser humana, humana demais para ser tão linda, perfeita demais para estar nos braços de outro, tão perfeitamente minha que uma vida inteira te amando seria pouco!


Há um abismo prateado no limiar deste horizonte que só vejo quando fecho os olhos com força. Um vulto estranho brilha no canto dos meus olhos, e voa como uma mariposa em chamas, flanando sem destino para sempre em seu fosso negro como uma sinistra masmorra, enquanto suporto com um sorriso essa dor imensa quando alguém diz serem lindos esses olhos iluminados de dentro para fora, essa estranha claridade que só eu, em segredo, sei que é saudade da verdadeira luz que foi embora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário