Ask Google Guru:

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A HORA MÁGICA






A orla desenrola sua linha bonita, nunca aflita. Sua vazante desce pelo canto do meu olho como lágrima de uma estranha alegria, melancolia recebida com festa. Pelos cantos, pelas arestas do que se vê, estamos condensados, firmados na efeméride daquele momento. Na fotografia, a luz é moldada no pós-clique: reverte-se, subverte-se o real com as tintas menos precárias do nosso imaginário. Assim a linha marginal do mar imenso estende-se para além do que se vê, deitando seu espectro entre o que se sente e o que se quer sentir, ou por um triz ficou para trás do real, porém adiante do possível, por assim dizer tangível no espaço definido pelo tato da alma, não do corpo. A pátina arenosa deste universo particular nunca é abrupta, corrupta ou revoluta. A fímbria tranquila recolhe em seu berço as marés revoltas, as voltas que damos no vai-e-vem das estações, as monções de infortúnio e boa sorte, tão comuns ao viver, e o concreto armado dos prédios novos sobre os casebres que resistem à maresia e aos ataques do dia a dia. Hoje tirei gravata e sapatos, e chafurdei na luz e na areia da praia dos meus sonhos, na praia da minha vida real, no bairro onde moro, onde moram vontades de ontem, onde vivem os fantasmas de hoje, onde jazem os perigos de amanhã. Hoje tirei gravata e sapato, e deixei o sol poente pegar-me de calças curtas. E no meio do calmo turbilhão do mar imenso, penso que fiz de minha vida (essa fração infinitamente mínima e tão precariamente bela) uma ode ao momento presente, uma canção de amor ao átimo íntimo perdido na infinita procura do que não será, não foi, não pode ser, não existia. Eis que eternizo, ao menos para mim, o sal empregnado nessa hora tão fugaz do dia. Mar, oceano, lágrima, tudo cabe no mesmo momento, na mesma palavra: poesia. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário