O dia amanheceu
doendo.
Não era eu,
não poderia ser.
No bolso do pijama
trago sempre um sorriso amassado
para ser vestido logo cedo
e crer no bem que vence o mal.
Ainda assim, senti doer
os ossos quebradiços dessa manhã.
Fingi que não era comigo.
Levei o lixo para fora, varri dejetos.
Arrumei objetos no escritório
e tirei o pó de certas lembranças.
Mas doía, a dor roía
o dia pelas suas beiradas douradas.
Ouvi ritos de festa,
lembrei que era carnaval.
Recusei qualquer unguento,
não teci lamento.
Era a alvorada que doía,
chorando sua mágoa boreal
dos confins coloridos
da dolorida alma de deus.
Dolorido, cansado, alquebrado,
assim o dia amanheceu.
Repito,
era o dia que doía.
Era ele,
não eu.
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