Vô Vicente morreu num domingo
sentado na cadeira de balanço
olhando brincar ao longe na campina
suas netinhas, belíssimas meninas.
Vô Vicente morreu dormindo
dizem até que estava sonhando.
Colocaram-lhe o terno branco
como manda a tradição.
A algibeira, a bíblia velha e o facão
foram juntos com o corpo no caixão.
Vô Vicente morreu sonhando
olhando de olhos fechados
aquelas terras beijadas de orvalho
e aqueles campos abençoados
por anos do mais duro trabalho.
Vô Vicente morreu num domingo
ereto como um coronel na cadeira de balanço
e com mão firme pra não deixar cair a xícara de café
porque era homem cristão, sério e forte
e não se deixaria envergonhar pelos truques da morte.
Vô Vicente morreu dormindo.
Vestiram-lhe o terno branco
como era de costume naquelas terras
vestir o morto com roupa de ir á missa
e pendurar-lhe no peito medalhinhas de santos
e medalhões de guerra.
Vô Vicente morreu segurando
a caneca de café quentinho e amargo.
Os homens da casa o banharam e vestiram
como era devido ao seu cargo.
Rasparam-lhe a barba centenária
para melhor apresentar a figura mortuária.
Vô Vicente morreu num domingo
e a família grande veio da capital
já engolindo soluços e lágrimas de sal.
Vinham carpindo o morto sem nem tê-lo visto
(cantavam o Birim-Birim como previsto)
prontas para bater seus bens em revista.
Mas ao ver o velho ali deitado
o povo todo se calou consternado.
Depois de banhado, barbeado e arrumado
puderam ver que com a cara limpa
sob as saudações de tiros e sinos
Vô Vicente estava era sorrindo
e tinha o sorriso bonito de um menino.
Excelente poesia! Que O Vô Vicente descanse em Paz, sorrindo feito menino!
ResponderExcluirLinda. Mas Vovô Quincas sabe da relatividade do tempo, e que seu neto ainda passará muitos e muitos e muitos anos aqui. Para a minha felicidade.
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