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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

AS COISAS RASAS







A sua medida
é a medida das coisas rasas
das coisas que cabem apenas nas casas dos teus botões
das coisas que podem ser descritas por tuas retinas
das coisas que só podem caber nas mais fáceis rimas
porque a sua pobre medida vigente
é a medida usada por toda gente
medida viciada, traçada de joelhos
medida que não sabe nada da imaginação dos poetas
que não cabe na avaliação científico-imaginária-aleatória
que faz possível medir o tamanho dos gametas e dos planetas
e a velocidade estimada da luz e a data de nascimento do homem
que sem tempo para arrependimento teve que morrer na cruz
("Eli, Eli! Lamná sabactani?") E não houve resposta alguma dos céus
que tinha mais o que fazer: o tempo observa impassível, ao léu,
enquanto a tua triste e corrompida medida
não corresponde à metade de um segundo da minha vida
mas ainda assim deixo-me à mercê da tua régua
e meu corpo diminui-se sem dó, sem trégua
a sua medida da minha e da tua vida
cabe apenas dentro daquilo que tu vês no espelho
e é somente por isso, por causa dessa tua medida
é que estamos parados, boquiabertos,
ficando velhos.





Marcelo Sousa, em "O Semeador de Abismos", 2011.

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