Há uma doçura estranha em não amar, digo, suspeitar que se ama sem saber sob que prisma. Entender o sentimento como uma cisma. Crendice. Achar novas graças na mesmice. Amar sem querer, por acidente astral, conjunção cósmica superior aos simples desígnios do ser humano. O idiota útil, acima do Bem e do Mal. O mar, o amar, o oceano, o mundo, o caminhar no lado escuro da lua, o mergulhar nas fossas abissais, onde tudo o que é supérfluo e cotidiano se torna grave e profundo. O teatro sendo engendrado nos bastidores, na coxia, a poesia acontecendo antes do levantar dos panos. Humano, demasiadamente humano. Palhaço de cenho franzido, punho cerrado, malvado e sério. Amor, mistério. Como a cortina que separa vida e morte. Nunca se sabe onde está ela: somos cegos olhando a paisagem do paraíso pela janela. Achar beleza na crueza do rosto da Medusa, ou ternura nos modos do Minotauro. Com carinho pentear com os dedos os seus cabelos feitos de serpentes, entrar em batalhas jà perdidas gritando aleluias com uma faca entre os dentes. Como nas conversas daquele que dorme e sonha com aquela que nem existe, princesa encantada, triste, enclusurada na mais longínqua montanha. Ser dos desastres do destino o fiel consorte. Não amar, ou ainda não sabê-lo. Eis o mais perfeito selo da sorte!
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