O que sabemos um do outro
Além do pouco de luz
Que nossos olhos escuros
Deixam escapar?
O jeito de conhecer bem rente
Como peixe agarrado num anzol
Ou gado marcado a ferro quente.
Os riscos, os discos, os carinhos
Como navalha em corpo arfante.
Sabe-me humano, finito, sozinho
Neste sinuoso caminho que atravesso
Sobre as águas, mirando horizontes
Entre alegrias e mágoas
Como timoneiro-palhaço-equilibrista
A vencer essas margens sem pontes.
Meu texto calejado
Auscuta, inquire e sonda.
Torna-se carne-viva, resultado
Do vai-e-vem das ondas,
Da fluidez do existir,
Ato-efeito de insistir
Em ser, apenas ser
Às vezes água
Torpor oceânico
Noutras vezes magma
Terror vulcânico.
Lâmina, líquido, álcool, navalha,
Sou, somos, para o bem e para o mal
Estátuas de sal que ousaram
Na fuga, olhar para trás.
Sobre o mármore do mundo,
Para além do bem e do mal
Somos filhos do absurdo,
Estátuas de puro sal.
Somos, seremos, sempre meninos,
Ou coisa que o valha, talvez algo mais,
A badalar linda e perigosamente
Com martelo de aço
Estes sinos de cristal.
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