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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

NA MANHÃ DE UM DOMINGO COR DE LARANJA






Na manhã cor de laranja desse domingo
Contar moedas cunhadas em terra estranha
Rasgar antigas cartas de amor e ódio
Adivinhar os pássaros que habitam o céu de cobre 
Inventar palavras de ordem contra os deuses
Lavar o chão do quintal como quem lava a alma
Com calma arrancar as ervas das frestas do dia
Espantar os gatos que fazem amor sobre os jasmins
Plantar pimenteiras que jamais irão vingar
Furar o dedo nas roseiras murchas do jardim.

Na manhã cor de laranja deste domingo
Perder-se nos olhos dos caranguejos do mangue
Pitar um cachimbo imaginário à beira da lagoa
Beber o sangue de Cristo na missa dos pobres
Achar uns cobres no bolso furado de um casaco
Sugar os seios de uma bailarina (eu menino, ela me nina)
Chorar uma única lágrima de uma torturada alegria
Acreditar novamente nos irremediáveis lances da sorte
Catar aos pés do coqueiro seus braços pretos, murchos
Mastigar promessas e preces trazidas pelo vento do norte.

Na manhã cor de laranja desse domingo
Ler notícias antigas no jornal recém chegado
Raspar com paciência a casca podre da vida
Beber devagar o fel gostoso da esperança
Desfazer os nós dos hábitos, quebrar cadeados
Sacudir a poeira dos livros, dos discos, dos ossos
Beijar a mão de fantasmas de cara risonha
Aceitar desconfiadamente os milagres dessa vida medonha
Lutar contra angústias enormes, em favor das pequenas
E seguir cospindo marimbondos como se fossem poemas.

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