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sábado, 8 de novembro de 2014

NENÚFAR




Todos os espelhos estão opacos. 
Por isso vejo mais claro.

Há peles morenas esperando o carnaval
por baixo da moldura de luz e metal.

(Gente é pra brilhar?)

Não é obrigatório sorrir na foto.
Mas, e de fato?

Cumpro ritos.
Palavra, às vezes, é só confete.

Esgoto
as possibilidades do poema
na vala comum destes versos
sem direção.

Do lodo nascerá a flor de lótus.
O nenúfar, a vitória régia,
essas também.

A esperança, 
não.

Ratos de pelúcia, baratas ambarinas,
besouros de madrepérola, percevejos de marfim,
carne-e-osso pra mim.

Caço contornos, horizontes.
Retorno de mãos vazias.

Nenhuma palavra merece meus lábios.
Ainda assim, canto.

Espero.
Faço mira.

O arco, por demais retesado,
arrebentará sem alarde, em tempo breve. 
Flecha de imburana, a seta de pedra-de-fogo, 
a mão soberana, erradia, desafiando a paz dos lobos.

Vontade é manobra difícil, exigência sempre inoportuna: 
vontade de seguir, prosseguir, porque todo vento é contra, 
ainda que empurre para a frente. 

Tudo é tensão.

Não faz sentido fazer poema. 
Não faz sentido fazer amor.

Sob a pele jaz a espuma do ser.
Entre os pelos, as ramas do querer.

Debuto desesperanças festivas.
Abismos me atraem.

Procuro sempre uma pulga
atrás da orelha de louça de um santo qualquer,
talvez um pequeno deus com olhinhos de serpente
e corpo de mulher.

Oremos.

Aprendi palavras novas.
Não as usarei jamais.

Trago nas mãos esses versos soltos, 
versos ruins, porque o bom verbo quero-o bem guardado, 
longe de holofotes, distante de ribaltas.

Falta pão, 
tomemos champagne.

Esquivo-me das boas causas.
Desvio o olhar dos favores mais doces.
Estou envergonhado demais para acreditar
no mel venenoso de cada manhã.

Gosto de gente.
Mas nem tanto 
de pessoas.

Calo.
Resvalo em ninharias.

Problema, teorema, teoria, tudo é esperança.

Todo problema tem cálculo, exercício, 
trabalho e resposta.

O que não é problema 
não tem solução.

Do lodo brotará
a flor de lótus.

Nascerá branquíssimo o lírio d'água
na foz das mágoas rasas desta vida.

Aqui, no pântano 
há pouca esperança. 
Mas, cedo ou tarde, 
haverá redenção.

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