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domingo, 29 de março de 2015

BOM DIA



Os deuses olham
e sorriem.
A treva é vária
e colorida.

Acendo uma vela
imaginária.
Faz tempo bom
entre os seios dela.

As coxas guardam
um magma que descansa
perfumes de tragédias abissais
entre o riso nervoso de poetas
que pedem mais
e mais.

Mas ela dorme
e a noite enorme se faz dia
sem que os anjos digam amém.
É domingo, em algum lugar
dentro dela.

Ouço.
Há um cicio.
O lábio ousa
falar de coisas cujo som
não se reduz em palavra.
O poema não diz
mas respira no hiato
deste fôlego imenso.

Penso em tocá-la
mas calo o gesto
ao sentir na boca
o gosto da sua sombra
- centelha negra
no quarto gris -
que me alumbra
a vontade de ser
apenas só
carne e osso
alma
e pó.

Os séculos que ela traz
numa vírgula, entre
as sobrancelhas,
reduzem a fogueira
dos meus dias futuros
a brasas dormidas
e tranquilas.

Observo, olho.
Ela me vê.
Tu, mulher
és um tótem.
Tu, que parada,
estás sempre
vindo.

Olho.
Observo.
Não vejo nada.
Estou calado,
sorrindo.

Passa o tempo.
Nada se move.

De repente,
ela acorda, e fere
como quem cura
lançando dos olhos negros
um único punhal de prata
que me acerta em cheio
como um sorriso de
bom dia.

Bom dia,
meu amor.

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