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quinta-feira, 30 de abril de 2015

PRETO-E-BRANCO



Na desiluminura de mil sóis poentes
desfloram-se retinas e palatos: o som
decide ser cor, e a cor decide ser fato.

São manhãs de lua e noites de sol.
Os arrebóis sem cor, ainda assim, gritam
sons de arco-íris, auroras boreais, supernovas.

Mas note, mire, veja
o quanto a palavra pinta
só com palavra este seu retrato.

Palavra sobre papel.
Palavra sobre a tela vazia.
E só.

Palavra após palavra.
Miríades delas, terríveis e belas,
como nós, estrelas em pó.

De repente o poema brota
nessas refazendas de palavras inventadas
por uma esperança que na página franca se aninha.

Poesia é paisagem:
fotografia em preto e branco
com um universo de cores nas entrelinhas.

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