Estrelas mortas brilham sem cessar.
Noites inventadas rolam no teatro do dia.
A salmodia dos pássaros envolve a manhã
com o celofane rosa-azulado da alvorada.
O mar - chumbo derretido - ronrona baixinho.
Oceanos dormem, não é necessário
marulhar demais, porque silêncios clamam por silêncios,
e fazem, sem pressa, uma sinfonia delicadamente terrível.
É preciso cantar.
E cantar, e cantar, e cantar.
O tempo se assenta em finas camadas, inaugurando
todos os abismos guardados nos relicários da rotina.
A tez, os pelos, os cheiros da madrugada.
Tudo é muito perfeito, e por isso precário.
Aceitamos açoites imaginários
enquanto chicotes reais rodopiam no ar.
Queremos grunhir, cantar,
sorrir, sofrer, gozar.
O versos se repetem,
vida ao avesso.
[Poesia é asa
e topeço.]
Tragam violões,
mas não os toquem.
Há tanto o que dizer,
que é melhor calar.
Tudo o que não for poeira
de estrada, é mar.
Sejamos fortes,
sigamos o mestre do canto.
Há um sorriso guardado
em seu lamento.
Tudo é bom, e mal
percebemos isso.
No meio do lodo
é que nasce a flor-de-lis.
Note, a voz de um deus inexistente
preenche todos os espaços
e suas cantigas vem como ondas, e mais
ondas, e mais ondas de mágoa clara e limpa.
Tudo é bom, e mal
percebemos isso.
E só o poema poderá achar fácil
o que com dificuldade a vida garimpa.
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