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terça-feira, 21 de abril de 2015

ROTINA





Estrelas mortas brilham sem cessar.
Noites inventadas rolam no teatro do dia.

A salmodia dos pássaros envolve a manhã
com o celofane rosa-azulado da alvorada.

O mar - chumbo derretido - ronrona baixinho.
Oceanos dormem, não é necessário

marulhar demais, porque silêncios clamam por silêncios,
e fazem, sem pressa, uma sinfonia delicadamente terrível.

É preciso cantar. 
E cantar, e cantar, e cantar.

O tempo se assenta em finas camadas, inaugurando
todos os abismos guardados nos relicários da rotina.

A tez, os pelos, os cheiros da madrugada.
Tudo é muito perfeito, e por isso precário.

Aceitamos açoites imaginários
enquanto chicotes reais rodopiam no ar.

Queremos grunhir, cantar, 
sorrir, sofrer, gozar.

O versos se repetem,
vida ao avesso.

[Poesia é asa
e topeço.]

Tragam violões, 
mas não os toquem.

Há tanto o que dizer,
que é melhor calar.

Tudo o que não for poeira 
de estrada, é mar.

Sejamos fortes, 
sigamos o mestre do canto.

Há um sorriso guardado
em seu lamento.

Tudo é bom, e mal
percebemos isso.

No meio do lodo
é que nasce a flor-de-lis.

Note, a voz de um deus inexistente 
preenche todos os espaços

e suas cantigas vem como ondas, e mais
ondas, e mais ondas de mágoa clara e limpa.

Tudo é bom, e mal
percebemos isso.

E só o poema poderá achar fácil
o que com dificuldade a vida garimpa.

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