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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

ESPUMAS FLUTUANTES


Verdades 
líquidas escorrem 
das falas enquanto 
não é noite
nem dia.

Esperanças fugidias
fazem ninho em moitas
de silêncio e mágoa.

Estamos em estado de festa,
ou de luto, o que é, no fim
das contas, a mesma
coisa.

Estamos bem
como o cristal
à sombra do 
martelo.

Descubro cobras
e lagartos, de vidro
colorido, enterrados 
no peito d'uma palmeira
solitária.

Venta:
o mar arrebenta
contra meus rochedos
particulares, minhas verdades,
medos, minhas apostas, 
meus lances de fé
e sinismo.

Amar, fato
registrado em ata,
firmado em contratos
e lavrado nos autos
resvala, escapa
quando se tenta
retê-lo.

Amor,
monstro maldito
e belo!

Quanto custa
voltar atrás para
encontrar a mesma
história, renovada
em erros luminosos
e promessas frágeis
e lindas como as algas
que se desfazem todas
as manhãs, ao chegar 
à praia?

Há verdades firmes 
como a espuma branca
das marés.

Creio nelas 
e no poder de mil fadas 
afogadas, mortas, decompostas,
dentro de uma garrafa de vodka,
vinho, ou coisa que o valha.

Esses diabinhos
guardados nos odres
nunca falham.

O amor
rescinde à fruta
podre.

Fui romântico
em vão, como são
e serão todos os poetas
fracassados, mas aplaudidos
por hordas de paquidermes
que nunca dormem.

Enorme, 
o caminho de volta
some na poeira
do oceano.

A pé, à nado,
com remos ou braçadas
fortes, decididas, não importa,
já não posso voltar.

Inteira,
minha sombra
é maior que meu 
corpo.

Morto, 
valho menos,
mas sirvo ainda.

Servir e amar
é quase o mesmo
para muita gente.

É preciso
contar moedas
e garantir as incertas
vias do viver.

Cada vez mais raras
essas horas de paz e bem
precisam ser compradas
a peso de ouro e carvão
animal.

Assino promissórias.
Penhoro relicários
de prata suja.

O amor falha
mas não tarda.

Mesmo
em vão, não 
podemos desacreditar 
do seu poder.

Calar, amar,
seguir em frente,
rente à costa, cortando
a pele, a carne, nos corais, nos recifes, 
nos hábitos pontiagudos, nos costumes 
afiados, nas horas pesadas 
de descanso, no armistício 
do sono, na paz da 
ausência.

Só assim 
é possível, obrigatório, 
imperioso viver, sobreviver 
aos falsos confortos da noite 
e aos verdadeiros (porém tão
caros) prazeres
do dia.

Para todo o resto
há Deus, o dinheiro
e a poesia.

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