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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

AS NOSSAS AUSÊNCIAS



Certa manhã, ao acordarmos juntos e já atrasados
cada um correndo para um lado procurando roupas e tempo,
ela parou, deixou o vento alisar seus cabelos
e o sol dar-lhe no rosto o beijo 
que me faltou naquela hora.
O maquinário do viver vai gastando certas peças
que a gente não percebe que eram detalhes
que faziam toda a diferença, mas que de repente
simplesmente vão embora.

Fitou-me sem alento, e sentada na cama
frente à janela que convidava a aventuras titânicas
acho que desejou sair voando, planando
como fazem sem pudor as aves oceânicas
a garça branca, o martim pescador, a gaivota
esses bichos poetas que rabiscam no céus
as suas efêmeras notas.

E sem saber se poderia escolher entre ir ou ficar
ou se haveria tempo pra amar ou só olhar o mar
ou se tinha em si o tanto de loucura para saltar
apenas disse com a sabedoria simples dos amantes:

"Ás vezes eu me pergunto se tudo o que a gente tem de verdade 
são as nossas ausências..."

E eu, ausente de mim mesmo, 
sem saber se ali ainda estava o homem
ou já a engrenagem imunda que move a máquina do mundo
só pude preenchê-la com a delicadeza destemperada do meu choro 
e com os carinhos brutos da minha carne ereta de poeta
naquele único momento que de fato era nosso. 

E, sem mais filosofia
nos despedimos com um beijo de bom dia!

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