Ask Google Guru:

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

TENAZ



Escavam-me o peito de madeira sem lei

mil goivas desgovernadamente minuciosas:

o arrasto do gesto encalacrado no musgo dos hábitos

é o que determina a vontade dos objetos, 

mas não o rumo das mãos.


As mãos seguem os utensílios,

a coisa resume a gente como os pais resumem os filhos.

O gosto do gesto apalavrado, pendurado na ponta da língua

ou tatuado na virilha, veloz como um espasmo, voraz como uma íngua:

oh, se todo homem fosse mesmo uma ilha o oceano já estaria à míngua.


Habitarei a derradeira interrogação

com a doçura rascante dos que já não crêem

que seja necessário haver respostas para qualquer coisa

pois toda redenção é fogo-fátuo crepitando no temporal.


Note, perceba, mire, veja: no arpejo desta hora vibra o canto

de um arauto cuja língua foi cortada, cauterizada, e engolida

por seus patrícios, compatriotas não de um lugar, mas de uma sina

fundada pelo poema primeiro, justificada pela derradeira rima.


Baixo a guarda, desvio o metal dos olhares

procurando dias melhores entre os despojos catados

numa esquina entre o amanhã e o outrora.


Espada e escudo são inúteis.

O verbo inventado resvala na foz de todos os signos:

não fui digno do poema de ontem, nem serei deste agora.

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