Escavam-me o peito de madeira sem lei
mil goivas desgovernadamente minuciosas:
o arrasto do gesto encalacrado no musgo dos hábitos
é o que determina a vontade dos objetos,
mas não o rumo das mãos.
As mãos seguem os utensílios,
a coisa resume a gente como os pais resumem os filhos.
O gosto do gesto apalavrado, pendurado na ponta da língua
ou tatuado na virilha, veloz como um espasmo, voraz como uma íngua:
oh, se todo homem fosse mesmo uma ilha o oceano já estaria à míngua.
Habitarei a derradeira interrogação
com a doçura rascante dos que já não crêem
que seja necessário haver respostas para qualquer coisa
pois toda redenção é fogo-fátuo crepitando no temporal.
Note, perceba, mire, veja: no arpejo desta hora vibra o canto
de um arauto cuja língua foi cortada, cauterizada, e engolida
por seus patrícios, compatriotas não de um lugar, mas de uma sina
fundada pelo poema primeiro, justificada pela derradeira rima.
Baixo a guarda, desvio o metal dos olhares
procurando dias melhores entre os despojos catados
numa esquina entre o amanhã e o outrora.
Espada e escudo são inúteis.
O verbo inventado resvala na foz de todos os signos:
não fui digno do poema de ontem, nem serei deste agora.
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