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quarta-feira, 17 de setembro de 2014

ULALUME



Por ter arame farpado na carne tenra
gozo devagar toda vez que a máquina do mundo repuxa
os fios, os liames, os nós de arame e sonho.

Minto 
e sinto que um manto de realidades imaginárias
substitui o concreto armado por este corpo que habito.

Toda sentença revoga e revigora destinos possíveis e impassíveis.
Tese e antítese, preto no branco, o todo para um ou um para cada:
é assim que a serpente do bem e do mal morde a própria cauda.

Os deuses mais poderosos nascem do medo da morte.
E a sorte dos homens é sempre lançada em dados viciados.
Por isso não há dor que resista a uma idéia fixa, um arquétipo inventado.

Tristes fados me enfadaram por demais.
Os olhos desejam a inconstância sedutora dos mares,
mas os pés logo se apaixonam pela maré cimentada no cais.

Ainda assim, rompendo as fragas, flagro
um sorriso digno, o signo forte 
que projeta os milagres.

Há um lugar no mapa do mundo 
onde nenhuma rima funciona.
Lá, as pessoas tem esperança. 

Uma esperança de ferro fundido
urdida na densa tessitura de um espasmo:
um arrepio de fios de ouro na foz dos meus poros.

Auroras se consomem 
no espelho de aço brilhante
das pupilas dilatadas dos cegos.

Negras luzes traduzem estrelas mudas.
E já não achamos absurdo, que os poetas berrem,
zurrem, hurrem, gritem para contar seus segredos.

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