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segunda-feira, 11 de outubro de 2010

AVE DE RAPINA




Não serei como Ferreira Gullar
poetando lentamente dentro da noite veloz.
Nem poderia ser como Nina Simone
que cantava dores colossais com a mais doce voz.

Não serei vitimado pela má sorte
mantendo a fleuma, engolindo o choro.
Não consigo ser como o que descobre a pólvora negra
e na madrugada escura a enterra como ouro.

Às vezes acho bom estar sofrendo tanto
porque aos malvados o pranto convém.
Nunca disse que sou santo,
mas quero amor, sexo, carinho, dinheiro… e quem tudo quer nada tem.

Sou o que murmura os mesmos versos
em diferentes poemas.
Escrevo com sangue, esperma, fezes, fel, urina…
para o público horror e secreto gozo das almas pequenas.

Sou maldito por escolha e vocação
e solitário porque assim ordenou-me o destino.
Mas algumas vezes escondo meu imundo coração
atrás desses meus olhos tristes de menino.

Não creia na minha dor
não te comovas com as minhas rimas.
Já não sinto mais amor:
sou ave de rapina!

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