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domingo, 17 de outubro de 2010

MAGRINHA



O bom José queria mulher bonita
destas morenas magrinhas das capas de revista
que ele tanto observava, como o faminto olha o pão.
Mas ele era pobre, e feio, apesar de ter bom coração
e saber fazer como nenhum outro homem os melhores carinhos.
Certo dia topou com uma incerta Maria, que cruzou seu caminho
já fazendo cara de esposa e exigindo-lhe chocolates e uma rosa
vermelha, da cor da paixão que ele nem sabia que já tinha!
Maria era tempestuosa, voz grossa, gorda, fumante, barulhenta,
tinha o perfume do óleo da cozinha e na cama soltava fogo pelas ventas
ao jogar o pobre José de um lado para o outro (que sufoco!)
dizendo ao sujeito que o que ele tinha para dar ainda era pouco.
Maria rasgou as revistas, matou as magricelas sem nome
e José casou-se, virou operário, criou barba, seus olhos perderam o lume.
Mas este é o destino que nos aguarda a todos, quase sempre
porque começamos a nos perder ao sair do materno ventre
e aceitamos a felicidade da forma que for posta à mesa
nem que seja em forma de alguma sinistra surpresa.
José teve um filho, Caetano, que ao chegar em idade certa
também olhava as magrinhas e sonhava em ser poeta
e ensaiava versos e carinhos, e poetava pensando nos peitinhos
duros de alguma ninfa de cujo nome jamais saberia.
Também Caetano encontrou sua gordinha e seu destino de padeiro
daqueles que correm o subúrbio de manhã com buzina e bicicleta.
José e Caetano, pai e filho, foram felizes à força (brasileiros)
e suportavam com ternura o quinhão de amor e sonho que lhes cabia
porque, no fim das contas, é aí que mora a verdadeira poesia.


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