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domingo, 16 de dezembro de 2012

O MENINO OBSERVA O HOMEM





O menino observa o homem.
Menino-tempo, olhar tanto é o que resume
a paisagem que se mostra nova a cada dia.

Todo ser vivente é sua própria semente!
Paisagem de florestas desfolhadas com paciência.
O vivo morre, o morto germina outro tipo de existência.

O menino observa o homem.
E de tanto olhar e amar, 
devagar o consome.

Eis o milagre e mistério absoluto: 
o filho em seu amor é bruto,
precisa ser solvente, e seu pai soluto.

Solve, resolve. 
No ventre da vontade esconde-se um poema.
"Solve et Coagula" é nosso teorema.

Brinca o menino.
Com algodão faz barba longa e branca.
É o tempo imitando o tempo, panela sem tampa.

Cozidos em banho-maria.
Cozidos no fogo baixo de cada dia, somos.
Tempo, patrão. Deus, patrono.

Logo será homem este menino.
Todos os meninos, homens serão.
Um dentro do outro, um "sim" dentro de um "não". 

O menino só quer viver.
O homem só precisa morrer. 
A vida apenas cumpre seu dever.

Quer crescer, ser homem também.
De mãos dadas com seu pai o menino
canta para a morte: vem!

E de outra sorte não sabemos. 
O homem vira menino.
O menino diz amém.

O som do sorriso e a fisgada de dor se parecem.
Angústia e prazer são gemidos quase no mesmo tom.
São todos partes diferentes da mesma prece.

São iguais na foto, note a semelhança
entre a gargalhada senil de um ancião
e o berreiro pueril de uma criança.

Um dia as pernas fraquejam
e o homem, cansado, engatinha.
Note o menino: cedo já levanta e caminha.

Um percebe-se no outro.
Descobrem juntos, perante Deus, de joelhos
que viver é um constante quebrar de espelhos.



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