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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

PAX HOC DOMUI





A luz.
A voz.
A carne.
O cerne.

A cruz.
Os vermes.
O corpo vivo: pequeno. 
O corpo ido: enorme.

O fantasma
Do homem que vive, ainda.
A presença forte de outro,
Cuja existência é finda.

A derme
Que dorme.
O tempo, os ossos. 
Corda frouxa no pescoço.

Morte e vida:
Por um fio.
Atingir a plenitude,
Deixando-se estar vazio.

Debris de magenta e gris.
Destroços de uma doce vida.
Casca de ferida. 
Pó de giz.

Fotografia. 
Veto e voto.
Sorriso: os dentes amarelando.
O moto perpétuo congelado na foto.

Luz é faca de dois gumes.
A carne esconde a alma e seu lume.
Com lâmina boa abra o cerne da rima.
Ela sangra, mas ilumina.

O espírito na cela.
O anjo de asas inúteis e belas.
Pássaro bonito com falta de sorte.
A luz só escapa quando o corpo encontra a morte.

Mas sem pesar. 
A alma lamenta, mas engole o choro.
Diante do insondável é melhor calar.
O silêncio é de ouro!

Depois que deixar de ser poeta,
Serei passarinho, desfraldarei belas asas.
A morte, a sorte, a carne, o cerne, o planeta.
Tudo finda. E eu voarei, o coração em brasa.

A voz cala. Mas me ouvirás.
Vou te contar versos que com nada rimam.
Deus manda consolo de cima para baixo.
O diabo te faz cócegas de baixo para cima.

O sorriso, congelado na foto, se apaga.
O furacão, fotografado, acalma seus ventos.
Luz é matéria que não se vende: quem compra não paga.
Luz, essa que carregamos por dentro, pertence apenas ao tempo.

Frágil mariposa ou vaga-lume
Que em noite de tempestade não voa.
Humanos, a finitude é nosso perfume.
Mas ainda que curta, a curtimos. A vida é boa!

Sofrer é praxe.
E em torturas deliciosas,
Haverá sempre quem ache
Um girassol, uma rosa.

Chore baixinho, pois sei que a dor arrasa.
Já não tenho boca, lábios, para beijos e vinhos.
Já não podes achar meu corpo, trilhar meus caminhos.
Adeus. Que a paz habite a tua casa.

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