A BAILARINA
A mecha de cabelo estratégicamente deixada ao léu, que a mais tímida brisa faz dançar sobre a moldura daquele rosto. A seda verde-pérola da segunda pele, essa camiseta cuja alça escorre displicentemente pelo ombro esquerdo. O seio convidativo, arrogantemente desafiador, inadvertidamente perfeito, semi-oculto, obtuso, docemente coberto por brumas de uma cotidiana poesia. O gesto afrancesado de pegar a taça, levar o néctar à boca, e sorrir com os olhos após um gole imperceptível de vinho e vida. O cruzar de pernas, o dedilhar do piano, o pincelar sem pressa em telas reais e imaginadas. A pele branquinha imitando as ondas de espuma que ultrapassam a fímbria do mar bordando todos os cantos do dia. A conversa boa em som miúdo, voz baixa, cantiga de paciência e paz... Tudo se resume a uma sábia simplicidade de desatar os mais complicados novelos, e saber de delícias que vão além de pele e pêlos: há certos dias em que o amor elide a carne, e brota como uma flor na base do cerebelo.
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