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domingo, 3 de fevereiro de 2013

CARTAS DE ALCATRAZ



Um tronco bordado pelo limo do tempo passa flutuando.
O vento do fim da tarde faz cócegas na barriga da lagoa.
O sol põe fogo no mar mergulhando num horizonte distante.
As chalanas passam cheias de olhos curiosos.
Nuvens bojudas adernam como caramujos de algodão.
A lua escorrega por trás das montanhas.
Estrelas cadentes saltam dos olhos dos gatos.
Bêbados caminham como dândis esfarrapados.
Urubus observam atentos em voos que sujam o céu de carvão.
Há corvos por todos os lados, entre outros rapineiros alados.
Nada é por acaso, nem despido de segundas intenções.
Quem atou-me a esses nós? Quem calou-me a voz?
Em mim, nós desatados. Em nós os laços a se afrouxar.
Os minutos passam com uma tranquilidade de túmulo faminto.
As tintas descascam das paredes, dos olhos, dos hábitos.
Pelas arestas percebemos olhinhos pretos e miúdos.
E os porcos com seus focinhos àvidos nunca param de farejar.
Viver é praxe, a rotina dolorida, dourada, uma eterna festa,
Com ares de comédia burlesca ou dramática farsa
Numa penitenciária ensolarada com vista para o mar.

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