Sempre fui terceiro,
Sorrateiro em chances e vontades,
Cérbero, Medusa, Hidra a preparar o bote.
Filho de trevas apresentadas no picadeiro,
Palhaço que se esquiva dos holofotes!
Sempre fui terceiro,
De mirar o alheio não me canso,
E sempre que tua voz me invade
Sei que posso ser atroz, herói ou manso
Habitando tua cama já povoada: Olimpo e Hades!
Sempre fui terceiro
Aguardando tua poesia obtusa.
Tua bossa descalça e muito bacana
Arranca saias com a delicadeza, e ousa
Abusar como quem abençoa, e usar como quem se excusa.
Sempre fui terceiro
Nestes mènages atrozes, vorazes, velozes
Onde a mão que o salmo escreve também se atreve
A passear por recônditos onde Shiva, Javé, Jah e Maomé
Nadam no ar, de New York a Pequim, da Rocinha a Gizé.
Sempre fui terceiro.
Tuas afrodites, calíopes, nereidas, perséfones, reginas
São inspiração do meu secreto gozo, das prediletas rimas
Que pululam meus versos, meus gostosos e perversos devaneios
De injetar doces vilões e cáusticas heroínas sem pudor, direto nas veias.
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Wikiperfídia: "Terceiro", aquele que, não tendo sido convidado para a festa, goza olhando pelas frestas. O poeteiro nato, por assim dizer.
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