O quê sou eu, além deste corpo que sobrevive?
Sou a reunião de células e vontades, sou gametas e verdades.
Sou todas as impossibilidades desmentidas, o fato, o feto, a vida.
O quê sou eu, além deste exilado, este que não saltou de um décimo andar qualquer
ao provar num dia primeiro, num ano novo, o veneno de um velho perfume de mulher?
Digo, sou a estrela cadente que se recusou a ser finada
e prosseguiu voando, num arco eterno, oriente a ocidente, do tudo ao nada.
O quê sou eu, além deste corpo que sobrevive?
Sou todos os amores que tive e não tive, e sou ainda muito mais
pois trago em mim todos os brilhantes segredos ocultos nas fossas abissais.
O quê sou eu, além deste banido, este que não voou entre os artifícios de fogo
que emolduravam a cena tranquila desta corte onde sempre fomos os bobos?
Digo, sou a mais bela equação, o romance épico numa versão jamais publicada:
o poema do amor perfeito, que não existe, mas resiste, no ventre do vento, no seio do nada.
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