Madrugada adentro
leio vorazmente a minha sina
em palavras alheias.
Faço poemas
como quem corta com faca
e expõe da palavra o tutano.
Mas do nervo posto
mantenho intacto o seu vibrato.
Toda punção de vida e morte
procura na esperança o seu contrato.
Palco iluminado.
Panos coloridos, dourados,
sob a rima dolorida, adorada.
Lavro termos incongruentes.
Dísticos rolam sem a beleza dos cordéis.
Tudo o que tenho são cacos de vidro
sob as unhas.
Um baixio de bestas no peito.
Toda melodia expira antes do fim.
Ouça, a canção estaca
no oco da gente.
Inspiro, escrevo.
Um arfar que na noite longa
ainda canta.
Respiro.
Há pausas inconfessadas
nas entrelinhas.
Minha espada
escava sulcos no verbo.
O metal passeia
por baixo da pele inerte:
artes de um fauno sem floresta.
Que ninguém me entenda.
Vendo barato este ouro
que não é meu.
Maremotos perpétuos
aprisionados numa concha
ainda podem afogar os sonhadores.
Trago agmas enferrujadas
nessas cordas vocais onde eu quis me enforcar.
Canto.
Povoo de vento a boca desdentada
desta alvorada veloz.
Na coxia anasalada de uma sílaba forte
talvez haja redenção, talvez não.
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