As nuvens passam e bocejam.
Águas claras, excepcionalmente claras
deixam transparecer o peixe grande na lagoa
e sua boa aparição nadante, divagante e rara
reflete na prata polida de suas escamas a luz do sol
que poreja estrelas de céu e mar, e se rí,
e nada para longe.
Nada, nada, para longe, longe.
O nada no meio da tarde é tudo o que tenho,
isso que me abarca num barquinho que me leva
ao outro lado, aquele bocado de terra e guerra
onde serei homem sério, ainda que menino perante
os perenes mistérios de ser homem-menino-poeta,
e ter que esconder este meu ser completo.
Porque lá, do outro lado, eu sou outro,
eu sou pouco, eu sou apenas metade deste
que sem vaidade se mostra aqui imenso e pequenino,
este homem que se sabendo menino contempla o céu, a lagoa,
os peixinhos, os barquinhos, e sente que sua alma,
ainda que muito remendada, é uma obra completa:
a alma toda furadinha pelas traças
dos desejos e dos sonhos,
esta minha alminha vã
de poeta.