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domingo, 7 de dezembro de 2014

CABRESTO




O cabresto das conversas miúdas
na voz doce de quem ama com o coração de pedra polida
e descansa com um olho aberto e outro muito bem fechado,
este aliás, enxergando dentro, sondando interiores, entranhas,
como a nave que mergulha silente nos nossos sonhos
e de lá rouba pérolas que estavam guardadas
para dias melhores, amores melhores,
que são melhores justamente
porque jamais existirão.


O cabresto curto, fio de ouro que se estica e se contrai
num movimento que imita inspirar e expirar, esperto
e sinuoso como a serpente que sorri ao dar o bote
e depois beija, sôfrega, derramando a bile que
não mata de imediato: é fato que ninguém morre
de amor, assim rápido, no ato, como os romances
insistem em ensinar, ledo engano, no retrato,
veja só como ele sorri, o amante, (que cara boa)
mas de perto se notam as manchas, as marcas,
percebe-se que quem está sorrindo,
é o papel apenas, não a pessoa.

O cabresto das conversas miúdas
na voz doce de quem persegue, perscruta, percebe
que atenção é vigiar sem estar alerta, como quem dorme
sabendo que na terra dos sonhos, naquela terra dos desejos,
no mundo de faz-de-conta onde jaz todo spleen dos poetas,
nessa terra onde moram as coisas que ainda não fizemos
é onde se deve fustigar toda raiz de qualquer vontade
que não seja a de amar e marchar, marchar e amar,
sempre em frente, fiel e forte, jogando dados
viciados a mesma sorte.

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