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domingo, 14 de dezembro de 2014

NENÚFAR II






1.

Faço mira. 
O arco, por demais retesado, 
arrebentará sem alarde, 
em tempo breve.  

Flecha de imburana, 
a seta de pedra-de-fogo,  
a mão soberana, erradia, 
desafiando a paz dos lobos.

Vontade é manobra difícil, 
exigência sempre inoportuna:  
vontade de seguir, prosseguir, 
porque todo vento é contra,  
ainda que empurre para a frente.  

Tudo é tensão. 
Não faz sentido fazer poema.  
Não faz sentido fazer amor. 

Sob a pele jaz a espuma do ser. 
Entre os pelos, as ramas do querer. 

Debuto desesperanças festivas. 
Abismos me atraem. 

Procuro sempre uma pulga 
atrás da orelha de louça de um santo qualquer, 
talvez um pequeno deus com olhinhos de serpente 
e corpo de mulher. 

Oremos. 
Tenhamos força e fé
e em qualquer desespero
aguardaremos.


2.

Aprendi palavras novas. 
Não as usarei jamais. 

Trago nas mãos esses versos soltos,  
versos ruins, porque o bom verbo 
quero-o bem guardado, bem longe 
de holofotes, distante das ribaltas. 

Falta pão,  
tomemos champagne. 

Esquivo-me das boas causas. 
Desvio o olhar dos favores mais doces. 
Estou envergonhado demais para acreditar 
no mel venenoso de cada manhã. 

Calo. 
Resvalo em ninharias. 

Problema, teorema, teoria, tudo é esperança. 
Todo problema tem cálculo, exercício,  
trabalho e resposta. 

O que não é problema  
não tem solução. 

Do lodo brotará a flor de lótus. 
Nascerá branquíssimo o lírio d'água 
na foz das mágoas rasas desta vida. 

Aqui, no pântano  
há pouca esperança.  
Mas, cedo ou tarde,  
haverá redenção.

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