Ask Google Guru:

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

COMO PODE O PEIXE VIVO...





As nuvens passam e bocejam.
Águas claras, excepcionalmente claras
deixam transparecer o peixe grande na lagoa
e sua boa aparição nadante, divagante e rara
reflete na prata polida de suas escamas a luz do sol
que poreja estrelas de céu e mar, e se rí, 
e nada para longe.

Nada, nada, para longe, longe. 
O nada no meio da tarde é tudo o que tenho, 
isso que me abarca num barquinho que me leva 
ao outro lado, aquele bocado de terra e guerra
onde serei homem sério, ainda que menino perante 
os perenes mistérios de ser homem-menino-poeta, 
e ter que esconder este meu ser completo.

Porque lá, do outro lado, eu sou outro, 
eu sou pouco, eu sou apenas metade deste 
que sem vaidade se mostra aqui imenso e pequenino, 
este homem que se sabendo menino contempla o céu, a lagoa, 
os peixinhos, os barquinhos, e sente que sua alma, 
ainda que muito remendada, é uma obra completa: 
a alma toda furadinha pelas traças 
dos desejos e dos sonhos, 
esta minha alminha vã 
de poeta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário