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sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

ECO





Olhei fixamente 
dentro do vidro negro dos teus olhos, meu senhor, 
e fiz a última pergunta que ainda restava. 

O teu silêncio de rocha e cristal
partiu-se na miríade de poemas 
que jamais irei escrever.

Toda música se perdeu no vácuo, 
mas guardo na concha dos meus ouvidos cansados
algum resto de palavra, um trinado, um eco, um segredo, 
um medo que conforta, uma paz que entorta a espinha,
uma força que verga as vontades.

Trago essa verdade
como quem leva consigo uma antiga melodia, 
talvez um canto de ninar, talvez o som de um pássaro 
que nunca mais passou, talvez o rolar do primeiro trovão 
trazendo susto e magia. 

Não sei, 
mas entendo.
Pertenço a tudo 
o que me foge. 

Olhei fixamente 
para os lagos congelados dos teus olhos
e de dentro da escuridão 
uma luz gritou por socorro. 

Tardei em reconhecer o reflexo das minhas pupilas, 
a luz ambarina, pesada, deitada sobre o vidro negro
que é o teu olhar, este fosso de alegria e dor,
meu bom algoz, meu senhor.

Tremi ao reconhecer a chama
que no leito de veludo negro resiste sem ênfase
temendo (mas insistindo) em brilhar em vão. 

Diante deste espelho, 
fiz a ti a última pergunta que me cabia, 
e antes que pudesses me enganar com tua poesia, 
eu mesmo respondi a nós dois: não!

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