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terça-feira, 9 de dezembro de 2014

OS IPÊS AMARELOS






Joaquim, meu filho, 
os ipês estão floridos
nas montanhas em nossa volta.

Mas tu não vês, 
não sabes como são lindos
os nossos ipês.

Joaquim, meu filho,
demorastes a nascer, meu querido,
e por isso não podes ver o espetáculo desse dia.

Todos os ipês amarelos floresceram
pintando de dourado as montanhas que dormem
embaladas por este mar imenso.

O mundo é um lugar terrível
mas, vez em quando a gente olha para o alto
e os ipês de dezembro trazem alguma esperança.

Joaquim, tu olharias maravilhado 
a silenciosa explosão amarela
e dirias que Deus existe, senhor 
de todas as aquarelas.

Mas, filho, tu que não nascestes,
nada sabes, não miras, não olhas, 
não brincas, não choras, não vês
como são lindos os nossos ipês.

Nem eles te olham de volta,
não sabem da cor dos teus olhinhos
nem ouvem a tua voz, nem reconhecem
a tua gargalhada gostosa.

Joaquim, meu filho, o mundo é terrível
mas nele há dezembros que começam assim
com ipês amarelos brotando no seio da rocha
desafiando as escarpas montanhosas.

Mas tu deles não sabes, nem eles sabem de ti.
Tu, que no vácuo habitas, nada ouves, nada vês,
e por isso, diante desta montanha florida, penso
em como são lindos, mas como são tristes
esses nossos ipês.

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