Na primeira vez em que o eclipse da tua presença
assombrou a passagem do meu corpo sobre a terra
e os signos brutais que trazias como cicatrizes tatuadas
por um prazer feito apenas de culpa e mágoa
me fizeram novamente menino em labirintos de pele alheia
com as veias secando o magma tranquilo que num repente
agalopadamente denso atreveu-se a reverter meu tempo
em escamas de uma insidiosa, porém doce memória,
achei que teus olhos eram uma clara fúria verde
que se dissipava nas marés de uma voz rouca de mulher
mas quando já seguia longe o manto dourado dos teus pêlos
e o perfume nauseante da tua existência se acalmou em minhas narinas
percebi que eram negros os teus olhos, eternamente negros
como uma noite sem lua, como um segredo desvendado antes da hora,
como a luz negra que na hora da morte a alma persegue em transe
sem saber se voa ou se cai, se chega ou se vai, se ri ou se chora,
como uma rua dentro de uma caverna, como o signo da sorte
que entre as pernas da sereia os homens, tolos, procuram
e procurarão para todo o sempre, como eu que em ti
procuro um fim para uma dor que sinto mas não reconheço,
como eu que pago as parcelas da tua companhia
com as migalhas platinadas do meu próprio espírito
algo que nem o divino fiador de minha alma
saberá dizer o preço.
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