O rei e eu
do alto da torre vimos
centenas de milhares de espelhos partidos
mas de longe não percebemos que apenas um
apenas um reluzia, apenas um existia, apenas um
espelho partido em centenas de milhares
de estrelas prateadas
que com suas pontas afiadas
machucavam o olhar
dos cegos do castelo,
que choravam de alegria
de alegria, de alegria,
de uma desabalada
alegria.
O breu
nos olhos do rei
apenas os cegos do castelo
percebiam, sabiam, viam
no céu, no véu rasgado, no meu
gesto de menino velho, o teu
filho, porto, ilha, semente e raiz, feliz
resumido em centenas de milhares de olhares
vazados por um espelho partido em estrelas
cadentes, cometas, gametas, suspiros
no giro do cetro caído e no clamor singelo
do cristal quebrado, que na noite mais bela
anuncia: está morto, está posto, está dado
o toque do clarim, reina em mim, enfim,
o herói que jamais fostes, filho, pai, posto
no alto de uma torre de marfim
para a alegria dos olhos vazados
dos cegos que hoje choram
de alegria, de alegria,
de uma desabalada
alegria.
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