Sobre a curva do lábio
a fenda d'uma aurora.
A trave que segura
teu riso de repente desaba.
Cai.
Vai longe a lua,
água turva deitada
no caminho.
Há música
onde os brutos gritam.
Com o dedo anelar
risca um poema
no ar, na tarde
que te olha de joelhos.
De azul, fez-se vermelho
o olho vazado do firmamento.
És veloz, mas
morres de tédio.
Se pudesse, eu diria
em teus ouvidos caolhos
que invejo
tuas mãos cegas
tateando vias
tortas em minha escrita.
Gárrulas, garranchos.
Desce o pano,
mas um gancho
retém o poente, lindo.
Ainda é noite
sobre o oceano.
Finda
a dor, o que resta?
Um beijo
na testa, um aceno
um rasgo
na jugular?
Julgo saber
menos que o pó
dos teus artelhos.
Tudo é comédia.
Uma boca desdentada
desdenha desfechos possíveis.
Reconheço
que por uma fresta
podemos escapar,
sobreviver, vencer.
Desço
à primeira esperança
sabendo que viver
é um enorme
baile de máscaras,
mas não uma festa.
Dai-me forças,
peço à moça que dorme
coçando feridas
imaginárias, dessas
que doem mais
quando amanhece.
Tudo é comédia.
Todo abismo
merece
um sorriso.
És veloz, mas
morres de tédio:
teu destino
é terrível, mas
como é linda
a tua tragédia!
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