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sábado, 24 de outubro de 2015

MALDITO




Vamos festejar
os contratos não celebrados,
os heróis desacreditados, 
os vilões incompreendidos,
os bandidos acovardados,
os prudentes que estão falidos,
os cautelosos que foram pegos,
os amantes sem brilho nos olhos,
os amigos que não abraçam,
os padrinhos que não cuidam,
os pais que não amam,
os vivos que não morrem, 
os mortos que não descansam,
os pregos sem cabeça,
as tranças sem laço de fita,
os ritos sem compostura,
as missas sem fiéis,
os anéis sem dedos,
os brinquedos sem crianças,
os infantes sem inocência,
os irmãos sem fraternidade,
os palhaços sem graça,
os leões sem juba,
os crocodilos sem dentes,
os tubarões que se afogam,
os crentes que não oram, 
os cientistas delirantes,
os reis que imploram,
os juízes que não decidem,
as leis que não vigem,
os vigilantes que não enxergam,
os cobertores que não cobrem,
os cúmplices que não acobertam,
as mães que não se afligem,
os covardes que não fogem,
os tempos que não urgem,
os monstros que não rugem,
os ventos que não sopram,
os incêndios que não arrasam,
as casas que não protegem,
as primaveras sem flores,
os amores sem dor,
o labor sem cansaço,
o braço sem força,
o poço sem água,
a mágoa sem paixão,
o sim sem um não,
a mocinha sem um vilão,
os santos sem tentações,
as ações sem consequência,
as cobras sem veneno,
as águias sem penas,
e os poemas que não alumbram
o que dentro de nós é treva,
pó, deserto, silêncio
e sombra.

[Maldito, poeta, 
serás entre os seus.]

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