Algo
de mim na alga
que se deita sobre a água
afaga a maré que vaza
sem prazo.
O anzol
procura entre os sargaços
a carne, o cerne do peixe
que só por causa
do cansaço
do pescador
se deixa levar, fisgado,
mas não morto, o peito
rasgado de alegria
porque vai matar
em breve
a fome
de quem quer
que o leve embora
porque agora o peixe
é quem nos
consome.
Alguma poesia
sobra, soçobra na alga
que devagar se deita e afaga
a pele de prata deste
que morre:
correm
as águas, morrem
os homens, e o espírito
de deus bóia sobre
as mágoas.
Reza a lenda
que é o sal da terra
que tempera os mares
e é o pó das montanhas
que tempera
os ares.
Assim também
é o sal da carne de quem
morde os anzóis que dá sentido
e sabor à carne
que o tempo
rói.
O poeta
tempera o cerne
de quem o consome
porque todos os pescadores
sabem que é o peixe
quem come
o homem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário