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segunda-feira, 10 de junho de 2013

A TORNEIRA








A noite pinga, pinga, pinga.
As horas perderam a ginga.
Minutos dançam brutos, sem dó de mim.
São paquidermes bailando no jardim.

Torneira maldita brotando grãos de magma.
As bombas caindo pesadas noite adentro.
Engasgada matrona, enferrujado diafragma.
De onde vem esse pensamento?
De que fonte flui minha insônia?

Procuro um seio para sugar.
Uma ostra acalorada onde buscar
Com os dedos um metal líquido qualquer.
Um colo de estátua grega fingindo ser mulher.
O monstro acorda inquieto, mas nenhuma princesa
Virá beijá-lo, sua baba profana de fel e mel sorver.

Os corpos se contorcem.
O encontro causa choque.
Não há colcha de lã que nos sirva.
Sobre as almas nascem flores de não-me-toque.
Todo cobertor é um manto negro, colcha de besouros vivos.
Formigas vermelhas entram-nos pelos ouvidos.

Poetar não cabe. Cabe não.
Maldito seja o que poeta em vão.
Escolho a palavra, mas um pingo desfaz o poema.
A noite vaza mágoas, e as piores são essas miúdas
Que pingam assim, em gotinhas muito pequenas.

Sonhos acordados 
Podem ser perigosos espelhos partidos.
A torneira pinga, pinga, retumba. 
Cada lágrima é uma bomba.
A noite rebumba. 
Mire, veja: insones unidos 
Dançam separados o mesmo samba.

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