Mire, veja: como faca na carne, assim a saudade beija.
O silêncio gruda na pele dessas horinhas de calma e delírio, e não o teríamos retirado de seu lugar se não fosse a invenção do escárnio, com o qual o tempo, sempre urgente, nos maltrata.
Que ninguém me entenda. Sou o homem de lata. À fímbria do meu peito se escuta o turbilhão, a matéria revoluta, o eco do cão latindo no beco, o estampido seco da pólvora molhada.
A prata da casa foi roubada. De repente quase tudo está valendo quase nada. E vender o corpo por migalhas pode ser nossa única chance de fazer fortuna.
Enquanto os pássaros e os crentes guardam suas riquezas nos céus, persigo pérolas entre vulvas degredadas, segredadas por tímidos véus.
Mas há dias em que precisamos calar e ouvir. A máquina do mundo, mastigando os ossos dos poetas e dos açougueiros, faz uma cantiga tão bela, que seria um pecado não dançar conforme a música.
Brincar na lama. Embotar-se nos perigos de não viver, apenas para, ajoelhado e submisso, empreender a fuga para onde os deuses (cegos, surdos e mudos) não podem te encontrar, nem te perder, nem te salvar.
Num arpejo, velamos o átimo próximo, subsequente ao espanto. Toda espera traz em si o moto-perpétuo do próximo canto, um jardim de delícias, onde podemos morrer e ressuscitar como um inesperado Parsifal, entre pardais e colibris escondidos em árvores sombrias num dia ensolarado.
Muita calma nesse minuto, e muita aventura a toda hora. Não precisamos implorar pelo momento seguinte. Ele aguarda no ventre do vento, e nasce gritando, rugindo, urgindo, erigindo anátemas e vociferando arquétipos aos quatro ventos.
Marinheiros que somos, jamais aprenderemos a nadar. E viver será sempre um maralto onde os que chegam e os que partem repetem o mesmo plágio: só existe lógica, salvação, no naufrágio.
Será preciso mesmo navegar?
[...]
O silêncio gruda na pele dessas horinhas de calma e delírio, e não o teríamos retirado de seu lugar se não fosse a invenção do escárnio, com o qual o tempo, sempre urgente, nos maltrata.
Que ninguém me entenda. Sou o homem de lata. À fímbria do meu peito se escuta o turbilhão, a matéria revoluta, o eco do cão latindo no beco, o estampido seco da pólvora molhada.
A prata da casa foi roubada. De repente quase tudo está valendo quase nada. E vender o corpo por migalhas pode ser nossa única chance de fazer fortuna.
Enquanto os pássaros e os crentes guardam suas riquezas nos céus, persigo pérolas entre vulvas degredadas, segredadas por tímidos véus.
Mas há dias em que precisamos calar e ouvir. A máquina do mundo, mastigando os ossos dos poetas e dos açougueiros, faz uma cantiga tão bela, que seria um pecado não dançar conforme a música.
Brincar na lama. Embotar-se nos perigos de não viver, apenas para, ajoelhado e submisso, empreender a fuga para onde os deuses (cegos, surdos e mudos) não podem te encontrar, nem te perder, nem te salvar.
Num arpejo, velamos o átimo próximo, subsequente ao espanto. Toda espera traz em si o moto-perpétuo do próximo canto, um jardim de delícias, onde podemos morrer e ressuscitar como um inesperado Parsifal, entre pardais e colibris escondidos em árvores sombrias num dia ensolarado.
Muita calma nesse minuto, e muita aventura a toda hora. Não precisamos implorar pelo momento seguinte. Ele aguarda no ventre do vento, e nasce gritando, rugindo, urgindo, erigindo anátemas e vociferando arquétipos aos quatro ventos.
Marinheiros que somos, jamais aprenderemos a nadar. E viver será sempre um maralto onde os que chegam e os que partem repetem o mesmo plágio: só existe lógica, salvação, no naufrágio.
Será preciso mesmo navegar?
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