escadas imaginárias
no escuro.
Procuro
o cheiro verde-metálico
das rúculas selvagens,
das vulvas virgens,
da fuligem dos
corpos,
das campinas devoradas
pelo cimento que arranhará os céus,
dos campos com a grama orvalhada
e dos santos mofados na sombra
silenciosa de uma igreja
vazia, terrivelmente
vazia.
Desço
a ladeira do poema
em pleno meio-dia.
Queria
provar o sol que molha
de luz as tangerinas, as romãs,
enquanto a manhã apodrece
resplendendo nos olhos
dos peixes da feira.
As roseiras
mastigadas pelos olhos
das moças, os dentes-de-leão
em chamas, na foz de uma tarde
qualquer, num verão violento, impiedoso,
onde milagres são desperdiçados
com uma alegria torta
e desdentada.
Desço
esta vida inteira
à procura de algo que me valha
um sorriso, uma lágrima, uma gota
de suor, um piscar de olhos,
um gesto, um punho cerrado,
um espalmar de mãos,
uma oração, mas não
acho.
O facho
que me foge
vige no oculto,
no distante, no insofismável,
naquilo que não possuo nem
entendo, mas continua sendo, ou
melhor, insiste em ser meu:
eis que no poema
te escondo
e tu me guardas,
meu fim, meu começo,
esse estranho verso
- meu Deus.
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