A chama verde-azulada
- que em verdade é feita de noventa
e oito mil tons de vermelho -
aos poucos se apaga, esplêndida
como a estrela que vemos agora
no oceano lívido da Via Láctea
ou melhor, nos seus
arredores.
No centro, seu umbigo
negro engole matéria e tempo.
Seu coração rubro pulsa cansado
dentro de um cofre de carne, osso
e fé.
Estamos vivos.
É esplêndida e sombria
esta nossa condição.
As pálpebras pesadas
dos homens degolam
os caules tenros
das manhãs.
É bom
não negar os engenhos
deste mundo: somos todos
engrenagens cuja ferrugem
atinge mais a uns e menos
a outros.
Existir é pouco.
É preciso ser feliz.
Plantei muitos relicários
dentro da noite, sob tempestades,
entre ramas de pedra calcária,
flores de vidro colorido, dolorido,
aguardando festas, tragédias,
silêncios não proclamados
e gritos jamais recolhidos.
Quero viver
mais um pouco
ao lado de quem me ama
em vão.
Tão logo eu me apague,
tragam seus olhos para o campo
e procurem vestígios, vivos,
de que morri.
Não encontrarão
mais que estrelas, milhares
delas, fulgurantes como olhares
desviados de um desastre, de
repente.
Sorrir
é o trabalho, o exercício,
o vício necessário a cada dia.
Há uma alegria nervosa embrulhada
no papel pardo do poema.
A chama verde-azulada
esplêndida como a estrela
que vemos agora, com calma
se apaga no oceano lívido
da Via Láctea, ou melhor,
longe dos seus olhares.
Cansado,
o miolo de luz pulsa
insistente, tão brilhante, dentro
de um cofre de carne, osso e fé:
meu coração.
Todos os olhares
desviam-se, depois voltam
curiosos, furiosos, as órbitas
vazadas de paixão.
Quero viver
mais um pouco, e sorrir
o riso trabalhoso de cada dia
ao lado de quem me ama
em vão.
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