Ask Google Guru:
terça-feira, 10 de dezembro de 2013
EQUAÇÃO
sexta-feira, 6 de dezembro de 2013
O QUE EU QUERO
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
OSSOS DE BORBOLETA
sexta-feira, 18 de outubro de 2013
APOGIATURA
Silêncio.
Houve uma ilha de silêncio no oceano da cidade. As marés vagavam intranquilas à nossa volta. A algazarra fazia hiato. Os gritos se estilhaçavam contra a muralha de calma que se levantou entre nós.
Lembro que tudo era gris. O mar, os prédios, a montanha, até as árvores e as pessoas pareciam cinzentas. Mas naquele instante sem nome, sem foto, sem dono, naquele instante o firmamento rasgou-se devagar, e do tecido roído brotou o azul. E era desesperadamente azul aquele pedaço do cosmos sobre nossas cabeças.
Nossos dedos se tocaram, daquele jeito que fazemos sem notar, formando uma corrente de carne e aço. Nossos ossos tremeram, mas nossos olhos não se turvaram, o mundo fez uma pausa de mais de mil compassos, como se entre sístole e diástole houvesse tempo para contar uma história inteira.
De repente, estávamos dançando. Ela sorria com olhos e boca, e seus cabelos negros davam inveja à noite, e sua pele branquinha desdenhava do dia. Éramos os últimos habitantes do planeta, e todas as palavras não ditas faziam inveja aos poetas.
Lembro que o mundo parou para ver a bailarina sambar aquele miudinho cheio de bossa. A curva bonita de suas ancas e os seios de romã brincando de esconde-esconde entre as flâmulas de seda, o vestido roçando a pele feito nuvem que faz carinho nos topetes das montanhas.
Silêncio.
Aquele silêncio tinha cor, perfume, e era tátil como as teclas de um piano. E convidava. Não era preciso saber qual, como, onde e quando. O convite era para um silêncio salpicado de melismas assombrosos, com espaços perspontados de gemidos de sôfrega alegria, dessas que a gente não sai contando por aí, com medo de gastar a lembrança.
Recordo, houve uma ilha de silêncio no oceano da cidade. Palco perfeito, sem holofotes. O dia foi ficando castanho, os pardais entre as palmeiras chamando o sol para dormir... Foi assim que acordei, numa dessas varandas perdidas numa lembrança talvez vivida, talvez inventada, talvez - o que é mais certo - simplesmente sonhada.
Acordei naquela varanda, o pêndulo da rede fazendo cócegas nos meus sonhos, o ar pulverizado de música, a silhueta de uma ninfa dedilhando no piano as melodias que eu ouvia muito antes de nascer.
As folhas caíam como dias passados. Eu lembro. Eu estava lá quando um azul imenso abriu uma cicatriz na pele morna do dia.
Uma ninfa tocou aquela canção de ninar a tarde inteira, e eu imaginei claves de sol brilhando no céu cinzento.
Uma ninfa. E uma canção de ninar.
Sempre que lembro aquele momento, posso jurar que enxerguei seus dedos cantando. Foi a primeira vez que a vi dedilhar o clavinote como quem faz festa com o próprio corpo, instigando o tempo a parar, sentar e ouvir.
Uma ninfa reinventou o silêncio.
E os acordes que ela tocava faziam cachinhos nas madeixas do vento.
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
SÓ DÓI QUANDO EU SORRIO
terça-feira, 24 de setembro de 2013
SOU POENTE
quinta-feira, 29 de agosto de 2013
PRIMEIRO ENVELHECER
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
A HORA MÁGICA
sábado, 17 de agosto de 2013
CAPOEIRAS
domingo, 21 de julho de 2013
UNS E OUTROS
RETRATOS
terça-feira, 16 de julho de 2013
NOTAS PARTICULARES
segunda-feira, 15 de julho de 2013
OS MORTOS RECONSTRUÍDOS
domingo, 14 de julho de 2013
ANGÚSTIA COM FUNDO AZUL BRILHANTE
quinta-feira, 20 de junho de 2013
INSÔNIA
quarta-feira, 19 de junho de 2013
RIEN
domingo, 16 de junho de 2013
O NADA
DIVAGO
Ditongos me hiatam.
Aparta-me de toda rima rica.
Afasta de mim este cálice.
Traga-me odres de vinho e fel.
Desato o fecho da prosa.
Meu canto é espada e broquel.
Nada de rosa vermelha para as moças.
Nem dedos tamborilando a fina bossa.
Quero calma de copo de pinga.
Olhar a ginga dos quadris ao longe.
Estou velho para o flerte.
Mas não me falta a mão forte.
Pra segurar nas ancas da rima boa.
Divago. Como é bom estar à toa.
Delongo em milongas úteis.
Adoro subir montanhas.
Porém melhor é descer escadas.
Bem fundo, mais baixo.
Comer um cacho de uvas
Enquanto Roma jaz incendiada.
Dar as mãos a Daniel na cova dos leões.
Recusar-se a rolar os dados, girar piões.
Nadar em poças de calma.
A alma esvaziando-se calada.
Não há coisa mais eficiente
Que não fazer absolutamente nada.