As migrantes sorridentes
Com sua arcada amarela
Seus dentes políticos
Seus sorrisos raquíticos
Sempre prontos para os holofotes
Como no sorriso da cobra e do lagarto
Sempre sensuais, prontas para o bote.
As balzaquianas ruivas
Afinando a voz, recatando os modos
Batalhando segurança e redenção
Deliciosas matriarcas hiperativas
Com seu corpo enrugado e tatuado
Aprendendo gírias adolescentes
Encantando incautos príncipes
Burocratas envelhecidos e flácidos
Timoneiros desencantados
Procurando qualquer canoa furada.
As mal amadas, abandonadas,
Que costuram bandeiras contra tudo e contra todos
Arrebanhando sectárias para sua causa mesquinha
Onde todos os homens são vilões, nunca prestam
Mas todas as noites esgueiram-se pelas arestas
Dos seus sonhos vulcânicos, tirânicos,
Rasgando-se em terríveis rompantes
Procurando os quintos dos infernos
Dos poemas de Dante.
Essas donzelas tão lindas
Pedem, imploram
Com sofreguidão
Que seus homens dos sonhos
Chamem-lhes de putas
Batendo-lhes com força
E uma delicadeza rara
De mão calejada
Estapeando-lhes
Não o rosto:
A cara!
As atrizes fracassadas
Que roubam candelabros
Nos saraus de Copacabana
E afanam jóias de família
Juntando lixo e luxo na mesma pilha
Prestidigitadoras performáticas
Pintam corpo, enfumaçam ambientes
E enquanto os crentes esperam
Seus comparsas engendram quimeras.
Vendem riso, verso e vulva
E o olhar cândido (porém vigilante)
Cabe-lhes como uma luva.
Negam o fel que lhes escorre pelas coxas.
Adaga encondida entre os seios murchos
E adornando os cabelos sujos
Trazem a mais bela flor roxa.
São todas necessárias
Cactos que um dia esperamos florir
Como a flor solitária no meio da encruzilhada.
Passe por ela, contemple, e siga adiante
Porque se colhê-la, terás dias de incríveis
De uma felicidade imensa e inesperada
Efêmera como a vida, hoje radiante,
Amanhã murcha, despetalada.
[...]
Pouco sabem vocês,
Benditas camponesas
Que passamos a vida interia
Perseguindo um conto de fadas
Só que às avessas.
Nosso final feliz
Não exige uma princesa.
Sabemos que, na vida real,
A carne hoje rija
Amanhã estará murcha
Por isso bem mais interessantes
São as bruxas!
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